Em Patmos há a solidão, personificada tal que como ela só, me faz companhia ao atravessar os dias. Companhia é também do vento que sopra aos meus ouvidos, cabelo e barba; afagos de uma doce brisa, por vezes grosserias de uma atroz ventania. Há de se juntar a nós nesta noite a chuva com raios e trovoadas; eu prevejo ao notar a inquietude do soberano Egeu à minha frente, o acúmulo do algodão cinzento no firmamento, onde água e céu são um e somente um. O sol já se despede, e a lua se precipita...
Em Patmos há a saudade. Saudade dos montes esverdeados de florestas ao redor de minha querida Jerusalém, que hoje jaz em ruínas junto aos sonhos do paraíso. Em Patmos, não consigo sonhar mais, em Patmos só há secura do sal e calcário...
Eu velo aqui as noites em claro, pois em Patmos, sinto que disponho do tempo do mundo e dispor de todo esse tempo é tornar desnecessários o sono ou repouso. No alto do monte, sentado nas pedras que os anos transformam, ouço a melodia do mar e dos pássaros que partem... Observo o nada que contém o tudo, e escrevo com a mão trêmula o que me contam as estrelas no preto veludo.
_____________________________________
_____________________________________