domingo, 7 de agosto de 2011

Fotografia - Prelúdio do Fim

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Em Patmos há a solidão, personificada tal que como ela só, me faz companhia ao atravessar os dias. Companhia é também do vento que sopra aos meus ouvidos, cabelo e barba; afagos de uma doce brisa, por vezes grosserias de uma atroz ventania. Há de se juntar a nós nesta noite a chuva com raios e trovoadas; eu prevejo ao notar a inquietude do soberano Egeu à minha frente, o acúmulo do algodão cinzento no firmamento, onde água e céu são um e somente um. O sol já se despede, e a lua se precipita...
Em Patmos há a saudade. Saudade dos montes esverdeados de florestas ao redor de minha querida Jerusalém, que hoje jaz em ruínas junto aos sonhos do paraíso. Em Patmos, não consigo sonhar mais, em Patmos só há secura do sal e calcário...
Eu velo aqui as noites em claro, pois em Patmos, sinto que disponho do tempo do mundo e dispor de todo esse tempo é tornar desnecessários o sono ou repouso. No alto do monte, sentado nas pedras que os anos transformam, ouço a melodia do mar e dos pássaros que partem... Observo o nada que contém o tudo, e escrevo com a mão trêmula o que me contam as estrelas no preto veludo.

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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Fotografia - Uma Noite Qualquer

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A fumaça esvoaçava por todo o ambiente, parecíamos enclausurados por aquele véu cinzento que pairava em todo canto e que respirávamos sem remorsos... Jazia no balcão de madeira escura o conhaque barato, copo de Uísque, dois cubos de gelo mergulhados no líquido dourado que reluzia o amarelo das lâmpadas que ainda funcionavam. O relógio-mal-dependurado na parede desbotada ao fundo indicava que o local já passava da hora de fechar, mas não havia ímpeto algum em partir... Nem da minha parte, nem da de ninguém. O olhar do barman era vidrado, seu rosto marcado pela rotina desgastante de noites que se recusam a terminar - sombras sob os olhos, linhas de expressão tão profundas e destacadas que mais pareciam fendas, feridas abertas e escurecidas - uma camisa rota e o zumbido nos ouvidos... Estava sentado num banco sem encosto, curvado e compenetrado na luminosidade de um televisor velho de quinze polegadas. A noite consumia cada um a seu próprio modo. Levo o copo até a boca, depois o cigarro, levo os olhos até a porta de saída, levo o pensamento até a vida que eu não mais possuo, bato o copo, apago o cigarro, jogo o dinheiro no balcão... E fujo.

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Fotografia - Praça e Outono

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A praça estaria completamente deserta se não fosse a sua presença ali. Também pudera; o sol mal podia transpor a camada escura de nuvens no firmamento, e o frio era congelante. Todos os bancos da praça estavam molhados e as folhas acastanhadas das árvores dançavam no ar, num reboliço engraçado, embalado pelo vento e o teu assobio fúnebre; o que apenas cooperava com a paisagem de outono Londrino. Pitoresco e digno de admiração, em uma outra circunstância é claro... Pois que naquele momento, não havia muito olho para o outono e os teus tons do declínio, mas para aquela presença, solitária e caminhante, vestida à moda da estação seguinte, que passava pelos inúmeros jardins sem flores, abrindo caminho entre vento, folha e umidade. 


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